Entre as atividades que devem ganhar força estão os cientistas de dados ou os controladores de tráfego para carros autônomos e drones
· O Estado de S. Paulo
· 26 Oct 2020
· Renato Jakitas
Estudo feito pela multinacional de tecnologia Cognizant aponta 21 profissões que, nos próximos anos, devem movimentar as agências de recursos humanos.
É o caso do alfaiate digital, que desenha roupas sob medida para lojas que operam pela internet, e do investigador de dados, que analisa informações e rastros deixados por pessoas, empresas e governos na web.
O emprego passa por mudança profunda. Especialistas apontam que a transformação será ainda mais radical nos próximos oito anos. A tecnologia ditará o tom das alterações, agindo algumas vezes como protagonista e em outras como coadjuvante.
Essas premissas estão no estudo feito pela multinacional de tecnologia Cognizant. Há dois anos, sob a liderança do especialista Ben Pring, que se autointitula futurologista em mercado de trabalho, a empresa americana edita lista com 21 profissões que, nos próximos anos, devem movimentar as agências de recursos humanos.
A publicação é revisada periodicamente e traz tendências para o mercado até 2028.
Algumas ocupações citadas no estudo dois anos atrás já fazem parte da realidade corporativa.
É o caso de investigador de dados, que procura, processa e analisa informações e rastros deixados por pessoas, empresas e governos na internet. Hoje é mais conhecida como cientista de dados – um profissional disputado por empresas de tecnologia.
Outras parecem retiradas da ficção científica. É o caso do alfaiate digital, que será responsável por personalizar, tirar medidas ou desenhar roupas sob medida para lojas que operam pela internet. Também tem controlador de tráfego autônomo, que vai gerenciar o trânsito de carros autônomos e de drones nas grandes cidades.
“Nossa pesquisa leva em consideração a realidade do mercado de trabalho nas principais cidades do mundo. Muitas vezes são empregos que já estão aí, próximos da gente.
Em outros casos, são empregos que podem até não acontecer, devem mudar conforme o avanço da tecnologia”, afirma Roberto Wik, diretor de indústria e varejo da Cognizant no Brasil.
Mundo novo. O relatório observa que o futuro do trabalho não necessariamente será sombrio, apenas diferente. “Nossa prioridade é mostrar que há um futuro para o trabalho humano.
Todas as carreiras listadas no estudo estão surgindo em uma época em que o valor comercial está mudando radicalmente.
Algumas habilidades estão perdendo espaço enquanto outras são mais valorizadas. Acreditamos que as profissões citadas combinam o futurístico com o possível”, aponta Ben Pring, vice-presidente da Cognizant.
Para ele, profissões morrem e outras nascem desde o início dos tempos. A diferença agora é que ocorre em ritmo mais veloz. “O surgimento da lâmpada elétrica acabou de uma hora para outra com o trabalho do cara que acendia o lampião da rua. Hoje, a tecnologia faz isso o tempo todo com funções mecanizadas, que serão todas substituídas por robôs mais cedo ou mais tarde”, diz Wik. Entre as projeções do estudo está o fim, no curto e médio prazos, de atividades milenares que sucumbirão à tecnologia e sua capacidade de produção superior à humana.
Segundo ele, esse processo é irreversível e global, tendo impacto mesmo em praças hoje marcadas pelo déficit de desenvolvimento. “Em alguns países, como o Brasil, a transformação deve demorar um tempo maior do que prevemos, mas é um processo irreversível.” Como exemplo, ele cita os caixas de supermercados ou atendentes.
Se, por um lado, os avanços em aprendizado de máquina, visão computacional, robótica e internet das coisas, além da automação de linhas de produção, fazem das máquinas excelentes funcionários e competentes colegas de trabalho, a projeção sobre os 21 trabalhos do futuro lança uma versão um pouco mais otimista sobre cenários disseminados de desemprego em massa.
“A boa notícia é que sempre será preciso um humano para programar e fazer a manutenção da máquina. Os robôs também abrem espaço para novos problemas que vão depender de homens para serem solucionados”, diz Wik.
Sua teoria foi vivenciada pela especialista em recursos humanos Aline Sueth. Ela conta que, quando atuava na gestão de profissionais da Ambev, a partir de investimentos em mecanização a empresa dobrou a capacidade de produção. “Imediatamente a nova tecnologia trouxe uma nova dor de cabeça: o aumento de rejeitos, lixo da produção. Tivemos de investir em novas competências para resolver essa questão.”
Para especialistas em carreira, daqui para frente a flexibilidade deve ser cultivada como principal atributo para não ficar de fora do mercado de trabalho. “A tecnologia exige formação contínua das pessoas”, ressalta Wik. De fato, a busca por alta especialização é a tônica entre as 21 profissões do futuro. Um conceito que, para a professora
titular da FEA-USP, Tânia Casado, já força uma mudança de perspectiva para os profissionais. “Se no passado o espírito de organização era o que mais se buscava de um profissional no mercado de trabalho, hoje o atributo mais desejado é a adaptabilidade”, diz ela, que também é diretora do Escritório de Carreiras da USP (Ecar).
“A flexibilidade é fundamental para fazer a migração para outra carreira rapidamente. A disposição para viver novas experiências e a capacidade de construir redes de contato devem se tornar cada vez mais importantes. Para quem se prepara para entrar no mercado de trabalho, essas competências prometem valer mais que a própria profissão”, diz Tânia.
“Em alguns países, como o Brasil, a transformação vai demorar um tempo maior do que prevemos, mas é irreversível”
Roberto Wik
DIRETOR DA COGNIZANT NO BRASIL
“Hoje o atributo mais desejado é a adaptabilidade”
Tânia Casado
PROFESSORA TITULAR DA FEA-USP
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